sábado, 16 de julho de 2016

Lutam melhor os que têm belos sonhos

Por Caio Botelho
A frase que intitula esse texto pertence ao revolucionário Ernesto Che Guevara, que inspirou gerações a se dedicarem à luta por um mundo melhor. Os “belos sonhos” a que se referia Guevara, entretanto, não devem fazer alusão ao irrealizável, ao subjetivo. Trata-se de sonhos concretos, que dialogam com uma análise científica da realidade. Ao menos assim deveria ser.
Bem verdade que existem setores da esquerda que julgam poder transformar o mundo apenas com frases de efeito e discursos bacaninhas, ainda que ignorando outros elementos essenciais, como a análise da correlação de forças e o grau de amadurecimento político das massas. Outros, por outro lado, parecem aderir à “realpolitik” mais tacanha, um pragmatismo desmesurado. Em ambas as situações, são graves desvios que devem ser igualmente combatidos. Tanto os primeiros quanto estes últimos podem até estar bem intencionados, mas embora as boas intenções sejam condição indispensável aos revolucionários, elas não bastam.
A forma de lidar com a questão eleitoral é um exemplo disso. Alguns parecem compreender as eleições apenas como espaço para “demarcação de campo”, apresentando candidaturas sem as relacionar com o quadro mais geral e rejeitando alianças com correntes que não sejam consideradas igualmente “vermelhinhas”, sob pena de manchar a pretensa pureza que possuem. Com essa tática, acabam contribuindo, não poucas vezes, com a vitória de setores mais atrasados.
Outros, ainda no campo da esquerda, colocaram o processo eleitoral num patamar de centralidade como se exclusivamente nele residisse o caminho para um projeto mais avançado e, consequentemente, subestimam a importância da luta organizada nos movimentos sociais e a disputa de ideias no seio do povo. Isso quando o objetivo não passa a ser apenas o de granjear mais mandatos, pouco importando o grau de compromisso ideológico dos eleitos e desconsiderando a importância de a eleição ser espaço para politizar as massas. Em sentido oposto, promovem campanhas que em pouco ou nada se diferenciam dos candidatos dos partidos do sistema.
O histórico dirigente comunista João Amazonas defendia a tese de que amplitude e radicalidade não se excluem, mas se completam. Ou seja, não dá apenas para ser “radical”, o que certamente levaria ao isolamento, mas também não é possível ser apenas “amplo”, adotando uma política de conciliação com o inimigo e abandono das posições centrais. É preciso articular esse binômio, levando em conta as condições próprias em que a luta se assenta. Esse é o grande desafio da esquerda consequente, e não é nada fácil e tampouco simples levá-lo a cabo.
No estágio em que nos encontramos e considerando as graves adversidades com as quais temos que lidar, não é uma má ideia voltar aos clássicos para buscar, sem dogmatismo e nem ingenuidade, caminhos que podem nos ajudar a encontrar respostas para as encruzilhadas que estão à nossa frente.
Fonte: UJS Nacional

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